Brésil & França

Brasil e França compartilham uma história de parcerias e influências mútuas.

 

No período de 1555 a 1560, os franceses tentaram fundar uma colônia na baía de Guanabara, a França Antártica. Os relatos de compatriotas que haviam participado desse episódio inspiraram um dos mais influentes ensaios de Michel de Montaigne, “Os canibais”. O filósofo renascentista se encontrou com três indígenas tupinambás no porto de Rouen. Por meio de um intérprete, foi possível dialogar com eles e logo estabeleceu uma admiração pela sociedade construída nos trópicos. “Acho que não há nada de bárbaro ou de selvagem nessa nação, a não ser que cada um chama de barbárie o que não é seu costume”, escreveu Montaigne. Eram membros de uma comunidade que podia desconhecer o comércio e o método científico, mas onde inexistia a ideia de subordinação de classes e onde todos, homens e mulheres, viviam em ampla solidariedade. Não é exagero afirmar que essa concepção de sociedade serviu de inspiração para ideais difundidos pelo iluminismo francês, que mais tarde retornaria como fonte para movimentos libertários no Brasil colônia e império.


Le Brésil et la France partagent une histoire de partenariats et d'influences mutuelles.

 

Entre 1555 et 1560, les Français ont tenté de fonder une colonie dans la baie de Guanabara, connue sous le nom de France antarctique. Les récits de compatriotes ayant participé à cet épisode ont inspiré à Michel de Montaigne l'un de ses essais les plus influents, « Les Cannibales ». Le philosophe de la Renaissance rencontre trois indigènes Tupinambás dans le port de Rouen. Par l'intermédiaire d'un interprète, il a pu dialoguer avec eux et s'est rapidement pris d'admiration pour la société bâtie sous les tropiques. « Je ne crois pas qu'il y ait rien de barbare ni de sauvage en cette nation, sinon que chacun appelle barbarie ce qui n'est pas de sa coutume », écrit Montaigne. Ils appartenaient à une communauté qui ne connaissait peut-être pas le commerce et la méthode scientifique, mais où il n'y avait pas d'idée de subordination de classe et où tous, hommes et femmes, vivaient dans une large solidarité. Il n'est pas exagéré de dire que cette conception de la société a servi d'inspiration aux idéaux diffusés par les Lumières françaises, qui reviendront plus tard comme source pour les mouvements libertaires du Brésil colonial et de l'empire.

No século XIX, a missão cultural francesa deixou um legado nos campos da arquitetura, das artes plásticas, da dança e da literatura e até no desenho da bandeira do país, cujo enunciado “ordem e progresso” remete ao lema da Escola francesa do positivismo (não por acaso, os criadores da República brasileira omitiram o termo “amor”, que completava o lema original de Auguste Comte). Instituições francesas, como a Academia, e símbolos, como a Marianne republicana, foram adotados no Brasil. Mas, como provaram séculos antes os tupinambás, não se trata de uma relação de via única. Ao ser perguntado o que o trabalho da missão francesa acrescentou ao Brasil, o antropólogo Claude Lévi-Strauss, membro do grupo de professores que participou da fundação da Universidade de São Paulo, respondeu: “penso, sobretudo, no que o Brasil acrescentou à missão francesa”[1].

 

Com efeito, os dois países compartilham uma fronteira terrestre de mais de 700km em plena região amazônica; 39 das 40 maiores empresas francesas possuem filial no Brasil, há acordos bilaterais comerciais e científicos que englobam desde o beneficiamento de açaí até o desenvolvimento de tecnologia do programa nuclear. Sobretudo, a França acolhe anualmente uma grande quantidade de estudantes e pesquisadores brasileiros, em programas de graduação e pós-graduação.

Au XIXe siècle, la mission culturelle française a laissé un héritage dans les domaines de l'architecture, des arts plastiques, de la danse et de la littérature, et même dans la conception du drapeau du pays, dont l'énoncé « ordre et progrès » fait référence à la devise de l'école française du positivisme (ce n'est pas un hasard si les créateurs de la République brésilienne ont omis le mot « amour » dans la devise originale d'Auguste Comte). Des institutions françaises, comme l'Académie, et des symboles, comme la Marianne républicaine, ont été adoptés au Brésil. Mais, comme les Tupinambás l'ont prouvé des siècles auparavant, il ne s'agit pas d'une voie à sens unique. À la question de savoir ce que le travail de la mission française a apporté au Brésil, l'anthropologue Claude Lévi-Strauss, membre du groupe de professeurs ayant participé à la fondation de l'Université de São Paulo (USP), a répondu : « Je pense surtout à ce que le Brésil a apporté à la mission française »[1].

 

En effet, les deux pays partagent une frontière terrestre de plus de 700 km au milieu de la région amazonienne ; 39 des 40 plus grandes entreprises françaises ont des filiales au Brésil, et il existe des accords commerciaux et scientifiques bilatéraux qui couvrent tous les domaines, de la transformation de l'açaí au développement de la technologie des programmes nucléaires. Surtout, la France accueille chaque année un grand nombre d'étudiant⸱es et de chercheur⸱ses brésilien⸱nes dans le cadre de programmes de premier et de deuxième cycle.

Nesse contexto de acolhimento acadêmico transatlântico, em 2024, a Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França (APEB-FR) celebra seus 40 anos de existência. Fundada em 1984, no final da ditadura civil-militar, período que marcou uma etapa significativa na história do Brasil, em um contexto de início da sua redemocratização, a APEB-FR tem se consolidado como uma importante referência no intercâmbio científico-cultural entre França e Brasil. Ao longo dessas quadro décadas, a APEB-FR tem desempenhado um papel central na congregação e representação dos interesses da ciência e tecnologia de ambos os países.

 

Para marcar a efeméride, a APEB-FR lança seu Colóquio 2024, que traz como tema “Brasil & França: ciência e pensamento contemporâneos”. O Colóquio pretende marcar essa data simbólica com um evento acadêmico interdisciplinar que tem como objetivo principal fornecer uma imagem do estado atual das relações entre os pesquisadores desses países. Dessa forma, trata-se de uma oportunidade para que estudantes e pesquisadores possam compartilhar e discutir seus trabalhos científicos, de todas as áreas do conhecimento, que se desenvolvem neste contexto de intercâmbio franco-brasileiro, bem como reiterar a importância da APEB-FR para construir, sustentar e consolidar parcerias nesta direção.


[1] Folha de São Paulo, 23 jan 2004.

Dans ce contexte d'hospitalité académique transatlantique, en 2024, l'Association des chercheurs et étudiants brésiliens en France (APEB-FR) fête ses 40 ans. Fondée en 1984, à la fin de la dictature civico-militaire, période qui a marqué une étape importante dans l'histoire du Brésil, dans le contexte du début de sa ré-démocratisation, l'APEB-FR s'est imposée comme une référence importante dans les échanges scientifiques et culturels entre la France et le Brésil. Au cours de ces quatre décennies, l'APEB-FR a joué un rôle central en rassemblant et en représentant les intérêts de la science et de la technologie des deux pays. 


À cette occasion, l'APEB-FR lance son Colloque 2024, sur le thème « Brésil & France : science et pensée contemporaines ». Le Colloque vise à marquer cette date symbolique par un événement académique interdisciplinaire dont l'objectif principal est de donner une image de l'état actuel des relations entre les chercheur⸱ses de ces pays. Il s'agit ainsi d'une opportunité pour les étudiant⸱es et les chercheur⸱ses de partager et de discuter leurs travaux scientifiques, dans tous les domaines de la connaissance, qui sont développés dans ce contexte d'échange franco-brésilien, ainsi que de réaffirmer l'importance de l'APEB-FR dans la construction, le maintien et la consolidation des partenariats dans cette direction.

[1] Folha de São Paulo, 23 jan 2004.